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A JÓIA DE ÁFRICA

Novela Portuguesa

«A JÓIA DE ÁFRICA»





  • Origem: EUA - 1965

  • Duração: 30 min

  • Produção: CBS

  • A JÓIA DE ÁFRICA desenrola-se em Moçambique, nos fins dos anos cinquenta, numa zona de plantações, banhada por um rio, apoiada por um povoado típico da época, a sanzala, e todo o esplendor, tanto da fauna animal como da paisagem que fazem deste continente o mais impressionante e fascinante de todo o globo. A história abre com um momento de grande dramatismo: Romão, nascido em Moçambique, que se formou em Medicina em Coimbra e que tem no sangue a arte do caçador, caça no momento em que é avisado que a sua mãe está às portas da morte. Ela, antes de morrer, diz-lhe que Romão não é seu filho natural, nem do seu pai adoptivo, o Engenheiro Francisco. Coloca-lhe com os dedos trémulos, em torno do pescoço, um belo colar da zona do Zambeze. Aí estão as suas origens. Margarida, a mãe adoptiva, morre antes de dizer quem é a verdadeira mãe de Romão. Este fica confuso e decide-se a voltar para Lisboa, para aí casar com a sua noiva, uma enfermeira, de seu nome Paula. Mas é na então Lourenço Marques que o seu grande amigo Domingos, de cor negra, que estudou com ele em Coimbra, onde se licenciou em Direito, lhe diz que aquele colar é da zona onde ele nasceu, colar usado pelas "donas", mulheres que se tornaram grandes herdeiras da região do Zambeze, fruto da mistura entre brancos e pretos. Romão vai com o amigo, já advogado em Lourenço Marques em busca dos seus verdadeiros pais, subindo o rio com todos os seus mistérios...Entretanto, na espectacular região onde se vai centrar a história, dá-se o regresso da linda Joana. Regressa para casar com Miguel, com quem estava comprometida, filho do aristocrata Romão da Cunha e da sua snobe mulher Isabel. Os Cunhas são proprietários de grandes plantações que estão em decadência, em contraste com as do pai de Joana, Eliseu, de origens humildes, que possui plantações em franca ascensão. O sangue de África corre-lhe nas veias, é ali que ela se sente feliz. A sua chegada coincide com a marcação da festa do seu noivado com Miguel. Mas entre eles, há contrastes e visões completamente diferentes do relacionamento com os negros, que no fundo espelham todas as contradições do colonialismo. Joana desde criança que se misturou, sem preconceitos, com os da terra, tendo como seu melhor amigo Domingos, que precisamente sobe o rio com Romão. Miguel sempre andou em conflito com Domingos e trata de uma forma desumana e racista os negros. Miguel tem como seu aliado Amílcar, o chefe do posto, homem bruto e de pouco carácter. E para agravar mais esta tensão e o lado mais negativo de uma colonização, Miguel cobiça Biti, uma jovem negra, de uma beleza rara e filha do Régulo. É uma violenta tempestade, como só há em África, com toda a sua espectacularidade que impede que se realize a festa de noivado, mas que faz com que a embarcação onde vem Domingos e Romão naufrague. É Domingos que salva Romão. E é na sanzala tratado por Biti que Romão recupera. A velha Nefuca, a feiticeira, já cega, neta de escravos, que se senta à sombra da imensa árvore que foi plantada em honra da libertação dos seus antepassados, sabe que a chegada de Romão vai trazer a revelação de grandes segredos e a mudança em muitos dos que ali vivem. Nefuca, a sábia de África, é ela própria possuidora da chave do grande segredo que envolve os pais de sangue de Romão que ali fica a viver até descobrir a verdadeira origem do seu colar que entretanto desaparece... Numa noite de luar Joana está prestes a ser atacada por um leão, quando Romão, um exímio caçador dispara mesmo a tempo, fazendo com que o leão tombe aos pés de Joana. Entre Joana e Romão nasce um amor escaldante, que tem como testemunho a tremenda e inesquecível paisagem Africana. Mas esse Amor vai ter a feroz oposição de Miguel e da sua mãe Isabel. Por outro lado e para adensar mais a intriga chega de Lisboa, Paula, a noiva de Romão... Vencerá o Amor entre Joana e Romão?



  • SOFIA ALVES - Sofia Alves interpreta a personagem Joana Figueiredo, que tem entre 25 e 28 anos. Nasceu em Moçambique. Foi desejada e amada desde sempre pelos pais. Tem um respeito profundo pela mãe, mas é sobretudo ao pai a quem faz confidências. Cresceu entre os meninos negros e não percebe muito bem a lógica das pessoas serem diferenciadas pela cor da pele. Faz a escolaridade na missão. Tirou até ao actual 9º ano e não manifesta grande motivação para fazer uma formação específica. Mas, adora ler e tem nos românticos os seus autores preferidos. Na missão, para além de muitos outros, foi colega de classe de Domingos e Miguel. Cedo percebe também a diferença de tratamento entre os pretos e brancos. Domingos, o melhor da classe era solicitado a trabalhar na terra , enquanto ela e Miguel tinham um tratamento especial. Por várias vezes, vai ajudar Domingos no trabalho da terra, mas percebe rapidamente que Isso provoca discussões e brigas entre Miguel e Domingos, por ciúmes de Miguel, Viveu portanto, duas vidas. Uma com Miguel, da sua cor e com uma vida típica dos colonos, e outra com Domingos, em que às escondidas ía com ele ensinar a ler e a escrever filhos de pescadores. Tornou-se uma boa contadora de histórias. O contacto com as pessoas locais e os empregados com quem tem uma relação de amiga, deram-lhe um imaginário extremamente rico e africano, complementado pela leitura de autores europeus. Escreve histórias para crianças, ilustradas muitas vezes com sementes, folhas, asas de borboletas que encontra no chão. Esse é um dos motivos por que as crianças gostam tanto dela. Há cerca de dois anos, foi gravemente atropelada quando ia de bicicleta. Além de pequenas escoriações , fez uma grave lesão na coluna. Ficou imobilizada e correu riscos sérios de ficar paraplégica. Esteve dois anos em Portugal, no hospital de Stª Maria, onde se faziam as primeiras operações à coluna óssea. Eram operações de grande risco. Viveu momentos de grande tensão e desesperou várias vezes. A mãe acompanhou-a nos momentos mais decisivos e Domingos a estudar em Coimbra visitou-a várias vezes. No entanto, foi um tempo de luta interior muito grande, e de esforço de reabilitação e em que assistiu também a muitas situações desesperadas, que a marcaram necessariamente. Sem ter ficado com sequelas, e andando normalmente, habituou-se a um ritmo mais lento e ficou com alguns medos, com os quais luta permanentemente. O casamento com Miguel fazia parte da lógica natural das coisas. Mas, depois de ter vivido tudo o que viveu, põe em causa também esse compromisso. Miguel está diferente e ela se calhar mais exigente. Há um lado de coisas que viveu, que nunca ninguém poderá perceber, nem mesmo os mais próximos, e que só se revela na forma como olha. Joana tem dificuldade em gerir conflitos. Tem tendência para ceder para ficar de bem com o mundo e nem sempre com ela própria. Esse é o lado que todos lhe conhecem. Mas a experiência que teve, a exigência de persistência que a vida lhe fez, alterou-a. Ela vai lutar por ser feliz.



  • DIOGO INFANTE - Diogo Infante interpreta a personagem Romão Júnior que tem entre 30 e 35 anos, médico, formado em Coimbra. Começou por ir para a África do Sul, onde andou numa vida mais ou menos aventureira.Não se adapta à vida sul africana onde impera o apartheid. Resolve depois de 2 ou 3 anos de vida instável, ir para Portugal/ Coimbra tirar o curso de medicina. (Nesse período, finais de anos 50, Coimbra e Lisboa começam a ser palco da organização dos movimentos estudantis dos alunos que vêm das colónias estudar para Portugal.) Ele sem ter uma participação política activa é um indivíduo preocupado pela desigualdade das relações sociais e pela descriminação rácica. É um homem com sentido prático, também exigido pela sua formação como médico. É-nos apresentado como um homem que gosta de caçar. É certeiro no alvo e objectivo na forma como coloca as questões. Depois de ter feito o estágio de medicina num hospital de Lisboa, onde conhece a Paula e dela fica noivo, é chamado pela mãe( adoptiva) a regressar à Beira, pois o pai(adoptivo- engenheiro) estava no final da sua vida. Não chega a tempo de ver o pai vivo . Resolve ficar a acompanhar a mãe, que sente bastante deprimida e envelhecida . Sente, por outro lado, o chamamento da terra, e a identificação com os seus valores . Gosta de espaços amplos e de caminhar. Tem um óptimo ouvido e conhece os ruídos dos pássaros. Quando a história se inicia, ele está há 5 meses na Beira e embora sabendo que está comprometido com a Paula, não manifesta muita urgência na vinda dela para Moçambique- é uma relação de envolvimento mas sem grande passionalidade. Está indeciso sobre o local onde se fixar. A Paula telefona-lhe com alguma frequência . Romântico ( individualista, subjectivo e intenso), franco, sincero, um pouco agressivo e impulsivo .( um homem que caça não é propriamente um pacífico contemplador de formigas). Teve uma formação e educação idêntica à de todos os colonos, sobretudo os que viviam nas cidades, essencialmente Lourenço Marques e Beira, com valores e aprendizagens europeias. Respeitando e conhecendo algumas mitos e histórias africanas, tem uma atitude respeitadora mas de distância e ironia em relação a elas. No fundo, quando se permite sentir, percebe os sinais da natureza, mas tem medo dessas mesmas sensações e desse mistério. No entanto, há no sangue sabedoria do animismo de África. A revelação da mãe, destrutura-o emocionalmente. Fica fragilizado pela morte dela e pela revelação que ela lhe fez. Toda a sua história é posta em causa, e precisa de perceber a sua identidade. Por tudo isto, existem perdas de algumas referências.



  • LURDES NORBERTO - Lurdes Norberto é Margarida, uma mulher adaptada à vida Africana. Gostou da terra, amou o marido que teve. Ficou fragilizada com a morte dele e tem crises de paludismo com frequência. Dado não ter podido ter filhos, afeiçoou-se e viveu a maternidade através de Romão. Conheceu a mãe de Romão, Maria do Amparo que protegeu até morrer. Guardou o segredo da origem de Romão a vida toda, porque entendeu que era a melhor forma de ele se achar amado e ser uma pessoa equilibrada e adaptada e de ser correspondida da mesma forma incondicional.



  • LUÍS MASCARENHAS - Luís Mascarenhas é Américo Oliveira, um comerciante, cinquentão. Sorriso disponível. Sabe que é engraçado, e usa esse charme a seu favor. Nasceu em Moçambique mais para o sul – Inhambane, na terra da gente boa. Saltitou por vários lugares, até se fixar por este local onde está à 20 anos. Já trintão e depois de amiudadas seduções repartidas por muitos lugares, enfeitiçou-se seriamente por uma bonita mulata, por quem fez as maiores loucuras. Fixou-se ali. Com a mesma paixão, enfeitiçou-se por outra e por mais outra. Contínua disponível para todas as outras . Acha que o seu coração é um continente onde cabe África inteira. Tem de todas elas, alguns filhos. A todos sustenta, e para isso tudo ser possível, faz por manter o negócio vivo. Tem sangue árabe e gosta de vender tudo embrulhado em muita conversa. Mantem-se informado pois acha que esse é um dos grandes segredos do negócio; a informação permite-lhe "adivinhar " e antecipar as necessidades dos potenciais compradores. Tem noções intuitivas de marketing – sabe criar necessidades para depois poder impingir os produtos. É também um observador com um bom discernimento da natureza humana, o que o leva a comprar produtos adequados ao que ele acha ser os seus potenciais compradores. Tem alguns problemas filosóficos, nomeadamente a sua relação com o bem e com o mal, pois foi educado em Inhambane numa missão católica. Estar com o Padre Isaías tranquiliza-o e põe-no de bem com a sua consciência, pois mesmo vendendo gato por lebre, depois do perdão, o gato ou a lebre ficam mais tranquilos. Conhece bem Moçambique , as suas gentes e costumes. Tem uma filosofia muito própria, e de quando em vez, tem uma tiradas convictas que de tão pessoais e pouco profundas, só ele as entende . Está sempre a inventar maneiras de tornar o seu negócio mais atractivo, desde a encomenda de novos produtos, à mudança da montra. Passa-lhe pela cabeça montar uma barbearia, aproveitando um canto da loja ,que é um fracasso, e é dos primeiros a inventar uma espécie de totoloto ou bingo com cartões que ele próprio fabrica. Não é obviamente nada racista e gosta de conversar com todos. Ás vezes fala demais e é inconveniente. É o português típico e simpático que promove a miscegenação. É intuitivo, esperto e ingénuo. Ás vezes, os tiros saem-lhe pela culatra, mas ele é persistente – Tudo tem altos e baixos – até os montes!



  • TERESA MADRUGA - Teresa Madruga é Isabel Rebelo Baltazar e Cunha. Tem cerca de cinquenta anos. Educada em Inglaterra – Londres, por uma perceptora. O pai era o equivalente a um diplomata português, conservador e monárquico que foi obrigado a aceitar a implantação da Républica. Vinham a Portugal diversas vezes, mas ele, preferiu permanecer em Londres longe dos conflitos do poder em Portugal. Ele fica feliz com a instauração do estado novo. A mãe ,era uma mulher com um perfil autoritário e sem paciência para crianças. Cresceu muito sozinha e não revelou nunca grande interesse por estudar. Teve um deslize na adolescência (15 anos)com um adónis britânico, aventureiro, com mais 15 anos que ela , que a seduziu e que foi com ela para a cama ,e que depois nunca mais lhe ligou nenhuma importância. Tem essa história guardada no mais absoluto sigilo e não sabe se Romão , o marido, alguma vez desconfiou que ela já não era virgem quando se casou. Ele nunca falou no assunto. Veio para Moçambique inicialmente contrariada. No entanto, quando chegou, apaixonou-se realmente por Romão. Percebe também rapidamente que ele está envolvido por Maria do Amparo. Tudo faz para a afastar do caminho dos dois e embora tenha conseguido concretizar esse objectivo, Maria do Amparo é um fantasma que vive com ela e de quem receia um eventual regresso. Sabe que Romão nunca a amou e nunca lhe manifestou qualquer tipo particular de afecto. A vida feita de ausência de afecto, tornou-a numa mulher amargurada e azeda. E, como nunca foi amada, não sabe amar. Gosta de dinheiro, e de status socia . Tem um lado de quem gosta de se exibir, como se reivindicasse uma atenção que a vida nunca lhe deu. Tem com a filha Eugénia uma relação de conflito, porque esta, desde pequena, que é rebelde. Hoje, a filha adulta , continua sem pontes de afecto ou contacto com ela ,porque ela, Isabel, nunca viveu saudavelmente a sua sexualidade e não a consegue perceber nem aceitar nos outros. Gosta muito do filho Miguel, que tem qualquer coisa no seu aspecto, de inglês. Acaba por deslocar para o filho as relações mal resolvidas que tem com os homens. Protegeu-o E protege-o de uma forma tão excessiva que acabou por criar um menino que hoje a manipula e a faz cúmplice de negócios pouco ortodoxos. Não gosta de viver em África, nem de misturas, nem da poeira, nem de cobras. Defende-se, atacando. É apologista da teoria ,ainda vigente nos anos 50, que as raças tinham cromossomas diferentes, e que a inteligência dos negros era inferior . Para ela, a raça negra era também ausente de alma. Vive inadaptada ao meio ambiente e é profundamente conservadora como o pai. Pode tornar-se ridícula pelo tipo de posições que defende, mas também ela, é produto do seu passado. Faz questão de os "criados" estarem impecavelmente vestidos e adora mesas bem postas. Procura demarcar-se socialmente de todos os habitantes da Vila pelo aspecto e pelos gestos. Adora jogos de canasta, ("quando jogo, não vejo, nem penso" )embora perca na maior parte das vezes, o que a deixa irritada. Quando não tem mais parceiras é obrigada a aceitar mulatas no jogo. Tem uma vida rotineira. Estabelece os menus para os almoços e lê os artigos sociais da época. A determinada altura decide pintar quadros, e organizar uma pequena exposição no clube. A única pessoa que a pode apoiar é o Jacinto dos desenhos, por quem vai ficar apaixonada pelo talento. Começa a pôr em causa a sua relação com a raça negra e a suavizar-se.



  • JOSÉ MARTINS - José Martins é o Padre Isaías. Tem 58 anos. É padre por vocação, o que quer dizer, que a opção está de bem com o coração. Veio para África logo depois de ter acabado o seminário. Gosta de aqui estar e esta é a sua casa no mundo. Também ele, foi crescendo como homem neste lugar, e foi alterando as regras de funcionamento na sua missão. Hoje, os seus meninos negros têm exactamente o mesmo tratamento que dois outros meninos brancos que vivem naquele lugar, diferente do tempo em que Domingos, Joana e Miguel aprenderam a ler. A sua referência como missionário é o Padre António Vieira, na sua capacidade de luta e de envolvimento. Tem sentido de humor e pode ser irónico. Sabe da fragilidade humana de si próprio o suficiente, para não condenar a dos outros. Não tem do pecado uma noção fechada e maniqueísta. Domingos acabou por ser um dos" filhos" preferidos. Ele sabe que é um homem também e até um padre pode ter preferências. Tem uma irmã mais nova na metrópole e sabe que tem um sobrinho. Só contacta com eles, por carta e gostava de o conhecer. Tem o grande sonho de ver crescer a missão e que ela possa dar instrução a todos os meninos. Ás vezes desespera das instalações serem limitadas e de não ter recursos para a poder aumentar. A missão para além de ter uma igreja, a escola e as machambas, tem um posto médico, e uma sala onde se concretizam outras actividades: para já, costura É preocupação do Padre Isaías a palavra escrita e o ensino do português. E um pequeno jornal é fundado e o regresso de Joana é providencial. Ele pedirá também ajuda a Camila. Elas poderão recolher histórias locais. Preocupa-o a vacinação das crianças. Pressente como um verdadeiro profeta que a alma portuguesa, não se vai poder impor pelas armas, nem pela guerra, mas sim pelo seu sentido de missão e espiritualidade. Tem um grande respeito pela organização social das aldeias em redor, e embora queira pregar a doutrina em que acredita , sabe que ela coexiste com as religiões africanas mais animistas. Não entra em confronto com elas. Respeita o régulo e gosta de Nefuca. Sabe que a ciência ainda não descobriu tudo, e que há sabedorias que ele não tem.



  • MARCO ALMEIDA - Marco Almeida é Miguel Baltazar Cunha. Tem 25 anos. Foi uma criança desejada. Depois de ter nascido Eugénia, tanto Romão como Isabel desejavam ter um filho de sexo masculino. Foi, porém, uma criança muito chorona. Por volta dos dois anos contraiu febre tifóide e temeu-se que pudesse morrer. Esta circunstância, aumentou a ansiedade, particularmente de Isabel. O filho que ela tanto desejou, e que era um bébé muito bonito, tornou-se o centro do mundo; do seu mundo, e ela obrigava a que fosse dos outros também. Os empregados andavam num virote a cumprir as exigências do menino. Tornou-se necessariamente uma criança mimada , exigente e egocêntrica sem ter que fazer qualquer tipo de esforço para conseguir o que quer que fosse. Sabia que através do grito tudo lhe era facultado. Essa estrutura de funcionamento foi-se mantendo ao longo do tempo. Admira profundamente o pai, que acabou por ser uma figura mais ou menos ausente afectivamente, pois Romão preferiu alhear-se da educação de Miguel, dado que não queria estar sempre a discutir com Isabel. É essencialmente com a mãe que ele procura cumplicidade e o continua a proteger em todos os seus comportamentos. Mantem , no entanto, com ela, uma relação ambivalente: por um lado partilha valores semelhantes, como, por exemplo, o racismo e a importância que ela dá ao dinheiro, por outro lado, sabe que no fundo ela é responsável pelo pai não gostar tanto dele, como Miguel gostaria. Foi uma criança com um aproveitamento escolar pouco elevado. Não era capaz de executar tarefas que exigiam muita concentração. Passava o tempo em brigas no recreio e a inventar jogos violentos. Esta necessidade de afirmação vinha também da necessidade de ser um herói, mesmo que pela negativa. Não perdoa a Domingos ter sido mais aprovado na sala de aula que ele. Ainda por cima, ser ultrapassado por um preto. A partir daí, adoptou uma atitude irónica em relação a tudo o que é doutor e a conversas que sejam um bocadinho mais intelectuais. È uma forma de defender a sua ignorância. Faz parte da lógica casar e Joana ainda por cima é, através da família, um bom partido económico. Não a ama, mas é profundamente machista em relação a ela. Exige ter ascendente sobre Joana, porque tem ascendente sobre a mãe. Julga poder ter esta atitude face a todas as mulheres. Tem uma atitude distante e de quase desprezo em relação à irmã Eugénia. Esta, pela sua dinâmica tem argumentos que ele não está a altura de rebater. Ela é a única, no entanto que melhor o sabe "desmontar". Por detrás de um homem assim, existe claro, um menino muito frágil. Gosta de jogar e fica obcecado quando joga. Como que quer controlar o jogo da sorte ou talvez o jogo da vida.



  • ADELAIDE DE SOUSA - Adelaide de Sousa é Eugénia Baltazar e Cunha, tem vinte e oito anos. Bébé precoce no andar e na linguagem. Cedo rejeitou os cuidados maternos, feito de mãos frias e ansiosas. Chorava quando a mãe lhe tocava. Preferia claramente os cuidados da ama negra, no colo, nas costas. A primeira afronta para uma relação que acabou por nunca ser vinculativa. A mãe desesperava com aquela rejeição, e não suportava ve-la ao "colo das Pretas". Mas, Eugénia só ganhava calma e tranquilidade naquele embalo. Isabel como que se demitiu muito cedo daquela filha, de olhos claros e determinados, ninada em canções africanas. Do pai, foi aceitando amparos, primeiro olhando-o na protecção do colo da ama, depois partilhando as primeiras palavras. Parecia que o coração tinha feitos escolhas anteriores ao nascimento. A mãe tentou ensinar-lhe regras, educá-la em preceito de menina de rendas, mas Eugénia olhava-a com olhos fixos, ouvia , virava as costas e ía refugiar-se no colo do pai. Romão C embevecido, mimava a menina e também não reforçava a relação entre as duas. Cresceu, foi à escola. Era rápida, inteligente mas desatenta. Quando as matérias a interessavam envolvia-se e tinha bom desempenho. Tinha especial competência para a aritmética. Mas gostava rapidamente de mudar de assunto, e de brincar com os colegas. Sobretudo com os rapazes, pois estes desenvolviam jogos mais activos. Tinha uma excelente motricidade, e uma relação muito física com as coisas. Cedo lhe é despertada a consciência sexual; de ser mulher e ser branca, num universo onde tem poder – social e económico. Gosta de seduzir e do jogo da sedução, feito de aproximações e fugas. É um jogo franco, aberto e ausente de noções de raça. Brinca com o fósforo, mas raramente ela se acende em chama. Na adolescência começa a ter discursos autonomizados e antecipados para o tempo e o contexto histórico. Clama por maior justiça social, e por ideais de igualdade e outra distributividade na riqueza do mundo. Embora o pai a acompanhe e a entenda é uma adolescência inflamada em excesso e Romão não pode pôr em causa o seu equilibrio como patrão. Eugénia diz que quer estudar e participar numa outra organização da economia do tempo. A sua competência para os números, levam-na a optar por economia. A mãe tenta que a sua formação seja feita em Inglaterra. Depois de grandes discussões, Eugénia opta ir para a vizinha África do Sul. O regime do apartheid incomoda-a, mas prefere ficar perto de Moçambique e do pai. Acaba por dar um chuto na economia e dedicar-se à fotografia, pois entende que deve povoar de beleza o mundo, e mostrar em imagens aquilo que é urgente dizer da desigualdade e do racismo. É argumentativa e tem ponto de vista. África tem para ela a inspiração da sensualidade. Tem uma relação profunda com a terra, com os valores, os mitos e as histórias lá existentes. Não entende, porque os brancos não percebem os prazeres telúricos das coisas naturais e simples . Gosta da água, do vento e do fogo. E enquanto as pessoas de raça negra respeitam os limites da sua individualidade, os brancos podem critica-la pelo seu excesso de liberdade. É a personagem que antecipa os anos 60. Na África do Sul, teve casos, namorados. Viveu o presente. É daquelas pessoas que não fica à espera que a vida aconteça. Ainda não se fixou afectivamente.



  • ANTÓNIO CAPELO - António Capelo é Romão Baltazar e Cunha, tem entre 51 e 57 anos. Veio no final da adolescência para Moçambique com os seus pais tomar conta de terras que a Coroa doara a um seu bisavô durante a pacificação do Vale do Zambeze. Veio para Moçambique já com uma senhora destinada, uma prima que vivia em Inglaterra – Isabel Baltazar e Cunha. Antes da chegar Isabel, Romão apaixonou-se por uma dona de Prazo- Maria do Amparo- que tinha sido levada por seus pais como serviçal. Esse amor é correspondido. Quando Isabel chega a África, percebe que ele está envolvido por outra mulher. Num fim de semana, aproveitando uma deslocação dos pais e de Isabel, Ele e Maria do Amparo consumam o seu envolvimento. Ele coloca no colar de Dona de Maria do Amparo, o seu anel de família. Três meses passados, Maria do Amparo percebe que está grávida e confessa-lho. Ele fica feliz e começa a tentar preparar uma fuga para a metrópole para se casar com Maria do Amparo. Mas, entretanto, adoece com uma crise de paludismo. No meio da febre escreve uma carta a Maria do Amparo, na qual lhe pede que caso morra, confesse tudo a seu pai. Pede-lhe ainda que caso seja um menino , lhe dê o seu nome. Mas, numa dessas noites ,em que a febre o faz delirar, Isabel ouve a sua confissão. Vai entre prantos falar com Maria do Amparo e diz-lhe que Romão faleceu. Maria do Amparo no mais profundo dos sofrimentos, vai ter com Nefuca para se aconselhar . Nefuca que nunca viu com bons olhos a mestiçagem pois considerava uma falta de lealdade para com a sua raça, aconselha-a a partir. Maria do Amparo parte, esquecendo-se da correspondência trocada com Romão que fica na posse de Nefuca. Romão que, entretanto, recuperara é informado por Isabel que Maria do Amparo fugira com um negro com quem andava de amores. Romão convence-se de que o filho que Maria dizia esperar, ou não existia ou não era dele. Casa depois com Isabel cumprindo os desígnios familiares. Porém, nunca consegue amá-la. Tem um passado aristocrático. Homem reservado, polido, raramente altera o tom de voz.No entanto, um homem firme e activo. A sua educação e bom gosto permitem-lhe ter paciência com a sua mulher Isabel, por quem nutre também alguma culpa por não ter conseguido amá-la. Moçambique tornou-se depois para ele, a terra onde escolheu.ser e viver É um bom analisador da natureza humana e conhece os filhos que tem ( Eugénia e Miguel ).Nunca conseguiu que Isabel e ele partilhassem os mesmos objectivos de educação. Sente alguma desilusão por não ter conseguido educar Miguel , nos mesmos valores que ele tem pela terra e pelos negros. Tem uma clara predilecção pela filha Eugénia, pois sente que ela vive de uma forma livre e o redime de tudo o que não viveu. Acabou por deslocar para ela a sua carga mais afectiva. Tem uma relação profunda com a terra e como que percebe os seus sinais. Foi absorvendo o misticismo de África e aprendeu a ler os sinais da natureza. Vive num mundo muito próprio. Continua a escrever cartas. Cartas que acabam por ser poemas, sem destinatário. Sente-se daquela terra e não partilha a postura de colonizador, de muitos outros brancos. A caça, é pretexto para estar uns dias fora e para libertar silêncios. Viverá com Camila a paixão completa e a cumplicidade. Terá o apoio da filha Eugénia. Caça ,para poder estar só e longe do bulício de um quotidiano onde não é feliz. Fá-lo com alguma frequência com Eliseu. Falam das terras, do trabalho, e dos filhos, mas o nível de intimidade partilhado nunca lhes permitiu saberem que afinal amaram a mesma mulher – Maria do Amparo. Gosta de cigarilhas, de exercitar a pontaria no tiro aos pratos. É um homem capaz de aceitar desafios e pôr em causa a autoridade vigente. Será um opositor ideológico e prático de Amilcar Santos.



  • CUSTÓDIA GALEGO - Custódia Galego é Amélia Figueiredo, tem entre 40 e 45 anos. Última filha de uma prole de oito irmãos, que cresceram no clima frio de Trás os Montes. Mulher do norte e de trabalho. Através de uma prima comum de Trás os Montes, desenvolve correspondência com Eliseu. Este, na ressaca do seu amor não vivido com Maria do Amparo e após o primeiro patrão lhe ter feito uma doação de terras no Vale do Zambeze, propõe a Maria Amélia casamento e para que não se tenham dúvidas quanto às suas boas intenções, propõe-lhe faze-lo por procuração. Amélia ouvira contar histórias da lonjura de África e não tem medo de lutar. Trás os Montes, naquela altura, só lhe podei oferecer uma vida pouco afortunada e havia poucos homens disponíveis para casar. Amélia resolve aceitar. Aceita com tranquilidade e determinação partir. Adaptou-se facilmente à vida em Moçambique. Foi pouco mimada e não tem grande facilidade de se expressar através das palavras. Sabe sim do silêncio e tem a sabedoria da intuição. Intervem nos momentos oportunos. Tem um profundo sentido prático e é capaz de executar com eficácia vários tipos de tarefas. Desde pregar um prego a fazer grandes e bonitos bolos. Sabe fazer crochet , tricôt e bordar. Como é uma mulher sem grande formação nas letras, tem alguma timidez em relação a grandes conversas com a filha. Mas tem grandes princípios e valores, como a lealdade, a verdade e a integridade que os passa através do seu comportamento. Não é racista e tem o sentido do serviço ao mundo. Acha que aquilo que sabe deve ser ensinado. Partilha os conhecimentos com os empregados. Trabalha onde é necessária. Gosta de plantar e ver a terra a devolver-lhe os frutos. Diz que uma das poucas coisas que lhe fazem falta em áfrica, é a noção das estações – tem nostalgia do Outono. Ama com dedicação e aceitação. Percebe com o sentido profundo de quem pressente mais do que entende, que não foi amada no limite do amor. Mas soube transformar em harmonia e partilha, a ternura e o respeito. Não quer saber, mais do que lhe é dito.Nunca fez muitas perguntas sobre o antes de Eliseu. No acidente da filha, soube manter-se firme e calma e ter esperança.



  • LUÍS ZAGALLO - Luís Zagallo é Amílcar Santos, tem cerca de cinquenta e poucos anos. Filho de pai incógnito, a mãe entrega-o num reformatório masculino no Porto. Ainda o visita durante uns anos mas depois desaparece sem deixar rasto. No meio de outras crianças com histórias tão complicadas como a dele, aprendeu a defender-se. O regime do reformatório era cheio de regras e de punições. Aprendeu uma noção de justiça muito própria. Quando sai do reformatório, vai à procura da mãe, através de uma morada antiga. Consegue contactar uns primos, que lhe referem que a mãe já morreu e que lhe dão apoio, mas que não o acolhem. Acaba por se inscrever na escola de Segurança e fazer-se polícia. Absolutamente imaturo do ponto de vista emocional e tendo poucas referências do universo feminino, envolve-se e apaixona-se por Teresa de uma forma radical. Teresa era uma rapariga bonita, também ela carente e que sonhava com um príncipe encantado. Aquele amor avassalador toma-a de assalto. Casam rapidamente. Cedo Teresa percebe, que aquele amor intenso é obcessivo e doentio. As cenas de ciume são diárias. Amilcar achando que foi abandonado pela mãe, não se acha capaz de suportar outro abandono. Em todos os homens vê um inimigo. Vai-se tornando um homem nervoso e fechado. Bebe bastante. O seu perfil de sobrevivente vai assumindo formas cada mais autoritárias. Camila nasce e este clima mantem-se durante mais dois anos. Abrem concursos para se ir para Moçambique. Amílcar fala nessa possibilidade, e Teresa acha que mudar de sítio e de lugar, poderá ser a salvação para aquele inferno diário. Partem então para Porto Amélia, em que imediatamente ele arranja problemas com o seu chefe hierárquico, pois acha que este é demasiado brando com os pretos. Teresa está proibida praticamente de sair à rua. Mudam-se para Inhambane. O clima dentro de casa mantem-se. Um dos sipaios, fica encarregado do transporte de alimentos, dado que Teresa não pode sair.. Amilcar, não previu esta eventualidade. Teresa apaixona-se pelo senhor – é um mulato escuro. Amilcar não perdoa aos pretos, nem ao mundo, terem-lhe tirado a mulher da sua fortificação. Camila, a filha, fica agora refém de todos os afectos. Mas a vida é mais sábia que os homens, e são imprevisíveis as situações que "ela" nos coloca nos caminhos.



  • ANABELA TEIXEIRA - Anabela Teixeira interpreta a personagem de Camila Santos, tem cerca de trinta anos. Veio bébé para Moçambique, com os pais – Amilcar Santos e Teresa Santos. Por colocação do pai, primeiro como subchefe de posto, viveu primeiro em Porto Amélia. Devido a problemas do pai com o chefe, a família transferiu-se para Inhambane. Foi onde estiveram mais tempo. Já com 12 anos, sua mãe, Teresa apaixona-se por um dos sipaios negros que trabalhava no posto onde o seu pai já era chefe. O escândalo rebenta e Teresa é obrigada a fugir. Camila recebe através de uma criada, uma carta da mãe, em que esta lhe pede desculpa por tudo e lhe diz que um dia mais tarde, ela poderá compreender. E que um dia, talvez ,se possam encontrar. Camila fica com o pai, e cedo tem que tomar conta de si própria e do seu crescimento. O pai que já era um homem irascível e com tendências racistas, torna-se violento. Pede transferência e não lha dão e ele é obrigado a confrontar-se com todos os olhares públicos que o humilham e o enraivecem. Ela passa a adolescência envolta em medo. Lê para si própria alto à noite para ouvir uma voz e dissipar a solidão. Manifesta, mais tarde, ao pai a sua vontade de tirar o magistério primário em Lourenço Marques. O pai acede e ela fica instalada em casa de uns primos afastados do pai. Este é sem dúvida o período mais feliz da sua vida. Já no último ano do curso, apaixona-se por um estudante de enfermagem e conhece a leveza da partilha. Embora vivendo este afecto de uma forma discreta, os primos acabam por perceber o seu envolvimento e comunicam-no ao pai. Este vai a Lourenço Marques e faz-lhe uma profunda chantagem emocional, que a leva a ser ela, de uma forma voluntária e culpabilizada a terminar a relação com o enfermeiro. Mais tarde, esse enfermeiro aprece morto e a ela assusta-a a ideia que o pai possa ter algo a ver com o assunto. Tem medo do pai, mas ao mesmo tempo tem medo também de o abandonar, pois teme que ele se torne uma pessoa ainda mais rancorosa e vingativa. Ela acaba o curso e o pai consegue finalmente transferência. Estão aqui no Vale do Zambeze à cerca de oito anos. Camila gosta do que faz e luta pelos direitos dos seus meninos. Foi amadurecendo e acha que se calhar teve que viver uma série de coisas para poder perceber outras menos óbvias. É bonita, contida, mas tem sentido de humor e é inteligente. Esconde ainda a beleza por detrás de uns óculos antiquados para a época, e protege o olhar para não lhe ser espreitada a alma. Ultimamente, sente-se mais solta, e começa a reinvindicar o seu lugar no mundo. A única maneira de afrontar o pai, é através de Romão C, pois sabe que o pai tem grande respeito ao aristocrata.



  • JOSÉ EDUARDO - José Eduardo é Eliseu Figeuiredo, tem entre 50 e os 55 anos. Homem sem grande formação académica, cedo se revelou um excelente trabalhador. Vai para Moçambique com 16 anos, tentar a sua sorte. Acaba por chegar à Beira e depois de vários trabalhos avulso, fica durante alguns anos como capataz do Engenheiro Francisco (que adopta Romão.) Ainda na Beira, conhece Maria do Amparo. Apaixona-se por ela, com coração sem defesa, e tem esperança na possibilidade de concretizar esse amor. A morte dela deixa-o destroçado. Foi padrinho do filho dela e depois da sua morte, deixa o menino entregue aos seus ex-patrões. Transforma essa perda numa luta. Casa com Maria Amélia que vem de Trás os Montes e com o dinheiro, do Engenheiro Francisco, uma parte dada e outra emprestada, parte para o Vale do Zambeze onde compra alguns hectares de terra. Começa a trabalhar a terra, com a ajuda da mulher e nasce Joana. Transforma-se no maior proprietário da região, através também de uma boa gestão humana. Consegue trabalhar e ser um bom patrão respeitando os trabalhadores, embora ninguém enriqueça pagando salários justos. Mas não deixa de ter preocupações para com o bem-estar, alimentação e nível sanitário dos empregados. Como sempre trabalhou e conheceu o trabalho duro, sabe apreciar um bom trabalhador e estar-lhe agradecido. É um homem emotivo e facilmente as lágrimas o podem espreitar. Sofreu profundamente com o acidente da filha e foi vê-la uma vez a Lisboa. Tem tendência para se deixar cair em pensamentos de cenários ideais. Gosta de reinventar outras vidas possíveis que poderia ter tido. Tem muito passado a ensombrar-lhe os olhos. Essa tendência para a efabulação silenciosa é como que hereditária. Joana herdou dele a capacidade para ficcionar histórias. Tem um profundo respeito e admiração por Maria Amélia e acabou por construir para ela um amor tecido no tempo. Chama-lhe ternura. Do amor por Maria do Amparo, guardou a sensação de entontecimento. Faz da filha confidente. E embora deseje que Joana, tenha uma boa situação económica e adquira um bom status social pelo casamento, valoriza o que é afectivo e respeita essa verdade. Gosta de ir à caça, mais do que caçar. Gosta daquelas saídas em que pode imaginar mais do agir. Gosta do companheirismo e do risco. Não tem, nem acha que tenha conhecimentos para ter uma intervenção activa na mudança de hábitos locais e na vida politica.



  • ERIC SANTOS - Tem entre 27 e 30 anos. Acabou o curso de Direito. Argumenta com consistência. É pausado. Guarda a sabedoria de África que nos diz que numa discussão quem demora mais tempo a responder, é normalmente quem tem razão. Procurou nunca se envolver em causas políticas, pois vive dividido entre o agradecimento que tem pelos brancos, nomeadamente pelo Padre Isaías que sempre o protegeu e pela necessidade de mudança que percebe necessária venha a acontecer no futuro em Moçambique. Acredita que através do trabalho consistente e continuado se possam operar transformações lentamente. Apesar de ter sido criado na missão e catolicamente, partilha da cultura africana e conhece todos os seus mitos e crenças. Sente-os como seus e dentro de si consegue integrar essas duas realidades de valores. Consegue pela sua inteligência e sensibilidade perceber esses dois mundos e como advogado que é, consegue flexibilizar o pensamento e as premissas da discussão em função do interlocutor: se for um africano, ele fala como um africano, se for, um português fala como um europeu. Homem bonito e sensível, sabe ocupar o seu lugar socialmente e conhece as regras do mundo. O pai morreu cedo, de cólera ou febre amarela. Cedo se percebeu que era um menino curioso e atento. Passou a infância na missão, mas o Padre Isaías estimulava-o a ir aos fins de semana, às vezes, à aldeia, para não perder os laços familiares. Não deixa de guardar na memória, que quando era menino, enquanto Joana e Miguel, seus companheiros de escola tinham um tratamento privilegiado, ele tinha que ir com os outros meninos negros para a machamba da missão trabalhar. É o Padre Isaías que lhe consegue uma bolsa de estudo, através de uma congregação católica. Vai para Coimbra, onde estuda com afinco. Procuram envolve-lo em Coimbra, em movimentos de contestação, mas ele, embora ouvinte atento, não participa das macas. Tem desde pequeno um grande afecto por Joana, que confunde com amor. Mas perceberá que o amor é outra coisa mais enlouquecedora e inquietante e não só um sentimento de ternura.



  • DALILA CARMO - Dalila Carmo é Paula Ferreira, tem entre 25 e 28 anos. É trabalhadora, lutadora e obsessiva na arrumação das coisas e dos objectos. Gosta de tudo muito "arranjadinho". Veste-se bem e tem exigências na forma. Está verdadeiramente apaixonada por Romão e pretende lutar por esse amor mas tem alguma dificuldade em manifestar sentimentos. Sendo enfermeira, é profissional na forma como se relaciona com os doentes, mas dá mais importância à competência do que à relação humana. É de Leiria. Os pais estão vivos e o pai ainda trabalha nos correios. Tem um irmão mais velho casado, que vive junto dos pais. Vem de uma classe social baixa. Ela tirou o curso em Lisboa, onde ficou a trabalhar no hospital de Santa Maria. Vive com uma amiga, também enfermeira com quem partilha a renda de casa. Era para uma enfermeira nos anos 50, uma promoção casar com um senhor doutor. E, embora ela goste de Romão, o estatuto de ter um marido médico, não lhe é alheio. África assusta-a, porque pelas descrições de Romão e Domingos (que ela também conhece), parece-lhe um mundo cheio de perigos. Não sendo racista , nem rejeitando os negros, nunca lhe passaria pela cabeça casar-se com um e não lhe parece uma coisa muito própria a mistura das raças. Não reagirá muito bem ao facto de Romão poder ter sangue preto. Não tem vontade nenhuma de sair de Lisboa e da Metrópole, porque é lá que tem a família e sente-se mais protegida. Mas ir para África exercer a profissão tem um aliciante de se ganhar melhor. É "dona do seu nariz" e tem uma visão prática e estratégica da vida. Não dá ponto sem nó. Vem a Moçambique tentar salvar o seu amor por Romão e o seu estatuto de promoção social. Fica verdadeiramente viciada em castanha de cajú ou amendoins. É assim que se acalma...



  • ANA MAGAIA - Ana Magaia é Nefuca, a velha feiticeira, neta de escravos, é muito mais de que uma feiticeira. É a sabedoria de África. As suas lendas, os seus sonhos, os seus medos. Ela sabe o que é conciliável e o que é inconciliável entre duas culturas tão diferentes. Mas também sabe que a única coisa que pode unir vivências tão diferentes é o amor.



  • FELICIANO MARICOA - Feliciano Marioca interpreta a personagem de Régulo. Tem cerca de cinquenta, cinquenta e cinco anos. Figura de prestígio. Vai conciliando os interesses entre as tradições da sua terra e os brancos. Adopta Romão na sanzala depois deste curar o seu filho. E tem uma grande admiração e amizade por Romão da Cunha.



  • ISILDA GONÇALVES - Isilda Gonçalves é Biti. Tem cerca de vinte anos, filha do Régulo, é de uma beleza rara. É uma mulher altiva e de uma grande nobreza.



  • PEDRO BARBEITOS - Pedro Barbeitos é Jacinto dos Desenhos. Rapaz novo, vive na missão com o Padre Isaías. Revelará um enorme talento para o desenho.



  • GRAÇA SILVA - Graça Silva é Graça, uma costureira, vive na missão.

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