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MULHOLLAND DRIVE
Título Original: Mulholland Drive
Ano: 2001
País: EUA/França
Realizador: David Lynch
Actores:
Justin Theroux
Naomi Watts
Minutos: 141
Resumo:
Uma mulher que perde a memória após um brutal acidente de carro é ajudada por uma jovem actriz recém chegada a Los Angeles. Universos paralelos, morte, mistério e sensualidade num filme do controverso e genial David Lynch.
Critícas dos visitantes do Site:
“MULHOLLAND DRIVE”, de David Lynch
CLASSIFICAÇÃO: ***** (Excelente)
Se eu não visse com os meus olhinhos, não acreditava que fosse possível
filmar-se assim, com esta perfeição! É que suplanta tudo o que já foi
feito, mas... de longe!
Assistir a este “Mulholland Drive” no cinema (em televisão, muita da magia
desaparecerá, provavelmente...) é uma experiência assombrosa, arrebatadora,
arrepiante, deslumbrante; em suma, celestial! Se Eric Rohmer e Woody Allen
são os mestres do argumento, David Lynch é o maior realizador do mundo!
E mesmo que as protagonistas deste filmes sejam muito boas actrizes, o que
as torna especiais é o modo como Lynch as filma...
Mas... para quê tentar? Ainda não foram inventadas palavras que se adequem a
uma obra destas...!
A MINHA INTERPRETAÇÃO DA HISTÓRIA (quem não viu o filme e não quiser
conhecer a narrativa, não deve ler esta parte):
Diane chega a Hollywood decidida a tornar-se uma estrela. Está um lindo dia
de sol! Hollywood é deslumbrante, tal como Diane imaginara. Durante a viagem
de avião, tomou conhecimento com um casal de velhotes naturais de Los
Angeles, também eles muito simpáticos e hospitaleiros.
Diane, depois de se instalar numa casinha (não me recordo se era o número
12...?), começa a ir a audições. Afinal, Hollywood não é tão perfeita... As
audições falham uma atrás da outra; Diane acha que tem talento, portanto o
problema será de quem faz a escolha. Começa a formar uma teoria da
conspiração: os actores já estão escolhidos antes das audições, impostos
pelos produtores. É assim que ela conhece Camilla. Camilla será uma dessas
sortudas que “conhece as pessoas certas” e fica com o papel que deveria ser
para Diane. Diane já perdeu o sorriso, o sonho, a ingenuidade. Já não
acredita que possa vir a ser uma estrela; contenta-se com ser uma actriz
anónima, com pequenos papéis. Torna-se amiga de Camilla, porque esta lhe
pode proporcionar isso. E assim acontece... Mas afinal Camilla revela-se uma
pessoa especial. Exerce um fascínio sobre toda a gente, incluindo Diane, que
se apaixona por Camilla, sem perceber que se está a apaixonar pelas
características que também desejava possuir: uma personalidade forte e
cativante e talento para ser actriz. Volta o sorriso, o sonho, a
ingenuidade... No entanto, o amor não é correspondido. Camilla relaciona-se
sexualmente com Diane, mas, estando integrada no espírito de Hollywood,
comporta-se de acordo, ou seja, é promíscua e superficial nos
relacionamentos. Envolve-se com um realizador de cinema, beija qualquer
mulher que encontre numa festa. Ainda por cima, toda a gente a adora! Toda a
gente prefere aquela mulher sem sentimentos a si, Diane, que tem um coração
muito mais terno. Começa a desejar que Camilla morra... Decide-se, por fim,
a contratar alguém para a matar. O assassino contratado dá-lhe uma chave a
que ela terá de dar uso depois da morte de Camilla. Diane vai para casa e
espera. Deita-se e adormece. Começa a sonhar...
No início do sonho (é o início do filme), um carro percorre uma rua, a
Mulholland Drive, de noite. É Camilla a passageira. Não sabe que o condutor
do automóvel é quem a deve assassinar... No entanto, algo corre mal, há um
acidente e apenas Camilla se salva, mas amnésica. Não sabe sequer o seu
próprio nome... Perto dali, está uma cidade iluminada: é Los Angeles.
Dirige-se para lá.
(Uma pausa na narrativa para fazer uma observação: David Lynch, para o
sonho, utiliza o dispositivo que nós já vimos no filme português “Adeus Pai”
(lembram-se?): caras que o sonhador conhece, mas fazendo pessoas diferentes
da vida real. A única que “faz” o seu próprio papel é Camilla, que, no
entanto, não sabe quem é...)
Em Los Angeles, Camilla acaba por se refugiar numa casa de uma senhora que
vai viajar.
Betty (que, no sonho, tem a cara de Diane) chega a Hollywood no dia
seguinte. Aqui, Diane recorda a sua própria chegada a Hollywood, só que
agora instala-se na casa de uma tia que foi viajar; ou seja, a casa onde
está Camilla.
A parte do sonho é bastante compreensível e não vale a pena eu descrevê-la
ao pormenor. Elas ficam amigas; Betty ajuda Camilla a descobrir quem é. Na
mala que Camilla transporta (que pertenceria ao assassino) encontra-se muito
dinheiro e uma chave igual à que o assassino dera a Diane. Entretanto, Betty
participa numa audição e é fabulosa! (No sonho, tem o talento que desejava
ter na vida real...) Há um realizador a quem é imposta uma actriz para o seu
próximo filme (que se chama Camilla e tem a cara de uma das amantes de
Camilla na vida real), por senhores muito poderosos (Máfia?). Ele começa por
resistir, mas acaba por ceder. Aliás, a vida dele desmorona-se, também a
nível familiar, com a mulher a traí-lo com outro homem e não deixa de ser
curioso que esse realizador tenha a cara do realizador que tem um caso com
Camilla na vida real... Diane concretiza, no sonho, a sua vingança para com
esse homem que lhe roubara Camilla...
O nome Diane Selwin diz qualquer coisa a Camilla... Ela e Betty descobrem
uma única Diane Selwin em Los Angeles. Vão à casa dela; ninguém atende à
campainha; elas entram por uma janela destrancada e encontram, estendido na
cama, um corpo; um corpo sem vida, já ligeiramente “apodrecido”, de uma
morena. No seu sonho, Diane, pensando que Camilla morrera, transforma-se no
objecto do seu amor (que também é o seu ídolo) e morre também...
Betty e Camilla acabam por se envolver sexualmente. Depois, descobrem uma
caixa fechada, com uma fechadura. Camilla tenta abrir com a chave que tinha
desde o acidente. A caixa abre. Camilla olha para o seu interior. Diane
acorda do sonho.
Batem à porta. É a vizinha que há três semanas que tenta encontrar Diane
(três semanas a dormir? Como é que Diane não suspeitou que algo estava mal
nesta “realidade”?). Diane devolve-lhe as suas coisas, vê, em cima da mesa,
a chave e, depois da vizinha sair, vai preparar um chá. Camilla surge
novamente (“Camilla, you’re back...!”) e desaparece logo a seguir. Diane
senta-se a tomar o seu chá. Olha a chave num misto de atracção e repulsa...
O que será que a chave abre? (Estará alguém nas traseiras do café?) O seu
maior receio concretiza-se: da caixa, aberta pela chave, saem os maiores
monstros possíveis: o casal de velhotes que a acompanharam na viagem de
avião, que a introduziram em Hollywood, que a introduziram no local que
afinal era tudo menos idílico, no local que se veio a tornar a sua perdição!
Eles perseguem-na pela casa. Ela pega numa pistola e dispara. Acorda do
sonho. Nós ficamos sem saber o que se segue porque o filme acaba.
Agora as duas cenas de que não falei, propositadamente: a cena do homem a
contar o seu sonho ao amigo e a cena do espectáculo a que Camilla e Betty
vão assistir.
Estas duas cenas são as pistas que David Lynch nos oferece para desvendar
todo o filme. Ou seja, a banda que se houve, mas não está lá; a mulher que
parece que canta, mas que, ao perder os sentidos, percebemos que não era
ela, porque continuamos a ouvir a mesma coisa... É muito fácil sermos
iludidos! E se quando estamos a contar um sonho a alguém, estivermos nesse
momento a sonhar (como acontece naquela terrível cena do homem a contar o
seu sonho ao amigo)? E se acordarmos de um sonho, mas afinal o que aconteceu
é que sonhamos que acordamos, mas ainda estamos a sonhar (que é o que
acontece a Diane no fim)? Por vezes, é difícil distinguir a realidade da
ilusão. Por isso o “Silencio!”. Se deixarmos de ouvir a banda, acaba a
ilusão. Diane acordou!
Título do filme
Nome do crítico
Cidade
Data da Crítica
Mulholland drive
João Pedro Machado
Ermesinde
9/28/2002
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